As novas linhas de orientação do Reino Unido para o uso da profilaxia pós-exposição (PPE) após exposição sexual foram publicadas no número de Dezembro da revista International Journal of STD and AIDS. Há a refere nesta nova versão que a PPE já não é recomendada em várias situações quando se sabe que o “parceiro fonte” é seropositivo e tem carga viral indetectável.
As linhas orientadoras são emitidas pela Brithish Association for Sexual Health and HIV (BASHH) e substituem o documento anterior datado de 2006.
A profilaxia pós-exposição é uma medida de emergência que se destina a prevenir a infecção pelo VIH após uma possível exposição ao vírus. A PPE consiste num tratamento de 3 ou 4 medicamentos antirretrovirais com a duração de um mês. As linhas orientadoras afirmam que é “crucial considerar a PPE na exposição sexual apenas como uma estratégia na prevenção da infecção pelo VIH e, como tal, deve ser considerada como a excepção quando outros métodos de prevenção falharam”.
Na avaliação da instituição da PPE, o documento recomenda que os médicos considerem o seguinte:
- O risco de transmissão em causa durante a relação sexual ou outro tipo de exposição
- O risco do “parceiro fonte” ser seropositivo para o VIH – se o estatuto serológico do/a parceiro/a é desconhecido, isto depende da prevalência da infecção pelo VIH nas diferentes comunidades
- A carga viral do “parceiro fonte”, se conhecida.
As recomendações que dizem respeito a níveis indetectáveis de carga viral são novas. Os autores referem os dados que mostram que, em muitas situações com um nível indetectável de carga viral a transmissão é altamente improvável e como tal a PPE é desnecessária. Após o contato sexual com uma pessoa com o diagnóstico de infecção pelo VIH e com carga viral indetectável, a PPE já não é recomendada se a actividade sexual foi penetração vaginal não protegida, penetração anal não protegida ou sexo oral. Mas a PPE ainda é recomendada após relação sexual anal receptiva.
As linhas de orientação também se destacam pela não recomendação de PPE nas situações em que se pensa que o “parceiro fonte” não pertence a um grupo social no qual a prevalência é elevada. Por outras palavras, se o parceiro sexual não é homossexual ou migrante proveniente de um país com alta prevalência (tal como a Africa subsaariana), a PPE não será por regra administrada após exposição sexual.
As linhas orientadoras também esclarecem que a PPE é desnecessária após um episódio de mordedura humana ou de contacto com agulha descartável, devido a muito baixo risco de infecção.
A tabela abaixo sumariza esta secção das linhas orientadoras
Estatuto serológico do parceiro sexual |
||||
VIH positivo |
VIH positivo com carga viral indetetável |
Homossexual ou imigrante africano de estatuto desconhecido |
Estatuto serológico desconhecido, mas não proveniente de um grupo com alta prevalência |
|
Sexo anal recetivo |
sim |
sim |
sim |
não |
Sexo anal insertivo |
sim |
não |
Considerar* |
não |
Sexo vaginal |
sim |
não |
Considerar* |
não |
Sexo oral com ejaculação na boca |
Considerar* |
não |
não |
não |
Todas as outras práticas de sexo oral |
não |
não |
não |
não |
Contacto de esperma no olho |
Considerar* |
não |
não |
Não |
Partilha de material de injecção |
sim |
não |
Considerar* |
não |
Mordedura humana |
não |
não |
não |
não |
Contacto com agulha descartável no espaço público |
não |
não |
não |
não |
*Quando as linhas orientadoras afirmam que a PPE se deve “considerar”, esta só deve ser administrada se existirem factores adicionais que aumentem a possibilidade de transmissão, tais como, uma prevalência lical particularmente elevada, a existência de outra infecção de transmissão sexual, infecção aguda pelo VIH no parceiro fonte, agressão sexual ou traumatismo, sangramento (incluindo menstruação) ou – no caso de sexo vaginal – se o parceiro seronegativo masculino não for circuncidado.
A PPE só deve ser administrada se o doente se apresentar dentro de 72 horas ( e dias) após a exposição. Quanto mais precoce for a administração da PPE, maior é a eficácia.
A combinação antirretroviral recomendada é Truvada® (tenofovir/FTC) e Kaletra® (lopinavir/ritonavir). Esta combinação pode ser modificada se o “parceiro fonte” é seropositivo e apresenta resistências a determinados medicamentos antirretrovirais. Uma outra razão para modificar a combinação terapêutica é a toma de outra medicação que possa interagir com os medicamentos antirretrovirais (por exemplo, Estatinas ou contracetivos de emergência).
Nas linhas orientadoras anteriores a combinação de dois medicamentos inibidores da transcriptase reversa nucleósidos/nucleótido e de um inibidor da protéase também era recomendada mas em pé de igualdade com um número diversos de outras opções.
Referência
Benn P et al. UK guideline for the use of post-exposure prophylaxis for HIV following sexual exposure (2011). International Journal of STD & AIDS 22: 695-708, 2011.