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Relatório do “avanço”  britânico sobre cura do HIV é prematuro

Uma nota do Editor de Soropositivo.Org.

O Clique a qualquer preço

Ontem, domingo, 02 de outubro de 2016, depois de acordar e tomar meu café, vi que minha caixa postal tinha sido soterrada de emails me perguntando se eu sabia algo sobre a cura de paciente(s) doentes de AIDS.

kartmannEu conheço bem esta propagação exponenciativa de notícias onde o Mornings of South Park publica Eric Kartmann cria nova forma de colar na escola e, doze horas depois, do outro lado do Mundo o The Hong Kong Post anuncia, em letras garrafais:

DESENVOLVIDO SUPER ADESIVO QUE IMPEDIRA A SEPARAÇÃO DAS PLACAS TECTÔNICAS DA AMÉRICA E DA EUROPA

Antes de pensar em responder fui às minhas fontes, que eu reputo seríssimas, A algumas delas eu tenho acompanhado nos últimos dez anos e nada vi. Alguém me ensinou, de maneira deveras dolorosa que, na dúvida, não se deve ultrapassar certas linhas e permaneci em silêncio.

Mas naveguei pela WEB brasileira e fiquei com a sensação ruim que tenho de vez em quando, que me parece ser uma tara, ou um fetiche, de se obter um clique a qualquer custo; e se o custo é baseado no “pay per click do Google, para mim tudo bem, é dinheiro que eles estão gastando e não é o meu,  neste caso, danem-se. Mas não é a este preço, é com a moeda do sensacionalisto barato o que, na mídia impressa isso é chamado de “jornalismo marrom”; E me parece que o click a qualquer preço não se importa se a moeda usada venha a ser avaliada é a mais custosa de todas, mesmo que este custo tenha de ser calculado em perda de vidas humanas que, conforme aprendi recentemente, cada pessoa é um mundo e quando ela morre pode deixar esposa, filhos, netos, bisnetos, talvez uma segunda família na outra ponta da ponte aérea (…) etc

Eu gosto de dar boas notícias, mas, a cada semana que passa, a cada mês que avança, a cada estudo promissor que eu publico e redunda em nada, eu me torno mais e mais prudente, cada vez mais seletivo, pois quando se fala de HIV, AIDS e CURA, você pode estar determinando destinos em direções a rumos que não seriam tomados se eu tivesse sido mais prudente, como eu fui ontem. Eu prefiro manter confiabilidade e o respeito aos que aqui chegam, muitas vezes, com o coração doloridamente apertado recebendo de mim uma desilusão muitas vezes desalentadora à “dourar” uma pílula e liderar, em direção ao sofrimento perfeitamente evitável, um grupo de pessoas que nem sempre tem o discernimento de pensar que, mesmo existindo, pode levar anos e anos até estar disponível para mais de trinta milhões de pessoas, como esta imagem que vou mostrar abaixo, que tem uma carência emergencial de novas terapias do que nós, que estamos sob TARV, com nossas cargas virais controladas e nossas contagens de CD4 em boas ou medianas condições. Eu creio que pessoas, como eu mostro abaixo, tem rigorosa prioridade sobre nós… bem, nós podemos esperar, e certamente seremos aqueles que estarão bem próximos do fim da fila

para-lembrar-sempre
Uma Criança, órfã declaradamente HIV positiva em um orfanato perto de Chennai, próximo a Madras, Índia abandonada por sua família

Se alguém de outro site vem aqui e lê isso, receba esta minha humilde mensagem com seriedade, porque todos nos estamos à mesma distância da morte

Cláudio Souza

Agora o artigo

 

inglaterraSunday Times de ontem relatou Que o HIV se tinha tornado indetectável no sangue de um homem após tomar parte no estudo chamado RIVER, é um estudo sobre um esquema de tratamento intensivo desenvolvido para testar se é possível reduzir os níveis de células infectadas pelo HIV nos corpos das pessoas recentemente infectadas com o HIV. Os pesquisadores esperam que o tratamento possa vir a erradicar a infecção pelo HIV completamente.

O Sunday Times relatou que cientistas britânicos estão à “beira de uma cura da infecção por HIV“. De fato, o estudo ainda está em seus estágios iniciais e não será capaz de descrever os participantes como “curados” até que um extenso seguimento tenha lugar e seja levado a termo. A Professora Sarah Fidler, pesquisadora do Imperial College, Londres, disse ao Sunday Times que os participantes do estudo serão seguidos por cinco anos. (Nota do editor. Este estudo, por exemplo, já ultrapassa a propalada previsão, naquele clipe, uma superprodução de cinco minutos, prometendo a cura para 2020.)

Sobre o estudo RIVER

O estudo: RIVER é um acrônimo para ‘Research in Viral Eradication of HIV Reservoirs’ *** Investigação sobre a possível erradicação dos Reservatórios do HIV *** -em tradução livre. O estudo está sendo conduzido pela colaboração “the CHERUB Collaboration”, um consórcio de equipes de investigação no Imperial College e no King’s College, Londres, da Universidade de Oxford e da Cambridge University, financiado pelo NHS  Instituto Nacional para a pesquisa em saúde.

O estudo está recrutando pessoas que foram infectadas pelo HIV nos seis meses anteriores – os que são conhecidos por estar em “infecção primária” que, neste caso podem ter menos células do organismo infectadas neste momento e, em tese, este grupo de pessoas pode ser mais propício à erradicação completa do HIV ou para parar a terapia anti-retroviral sem causar uma retomada dos níveis da carga viral do HIV.

Os participantes do estudo receberam uma combinação de quatro drogas antirretrovirais que inclui o raltegravir, que é incluído porque pode reduzir os níveis de HIV no sangue mais rapidamente do que outros medicamentos antirretrovirais. O tratamento anti-retroviral agressivo foi iniciado durante a infecção primária tem se mostrado eficiente para poder permitir que o tratamento seja completamente interrompido, sem rebote viral, em cerca de 15% das pessoas em um estudo de coorte francês chamado VISCONTI.

HIV-budding-ColorApós 22 semanas de tratamento anti-retroviral, participantes do estudo são selecionados aleatoriamente para continuar a receber a TARV com o esquema de quatro drogas sozinho ou para receber o esquema anti-retroviral mais uma vacinação projetada para melhorar a resposta imune de células infectadas pelo HIV. Os participantes no presente estudo também receberão dez doses de vorinostat, uma droga que ativa células infectadas com o HIV naqueles locais conhecidos como reservatórios ocultos, onde o HIV permanece inativo e, portanto, imperceptível para o sistema imunológico.

Se o esquema experimental for eficaz, vorinostat deve “disparar” o mecanismo das células infectadas com o HIV latente para produzir o HIV. O surto do vírus em produção como resultado direto da ativação será suprimido pela combinação de drogas antirretrovirais altamente eficazes. As células infectadas devem ser descobertos pelo sistema imunológico e a vacinação deve melhorar a capacidade do sistema imune em procurar e matar as células infectadas. Esta estratégia, conhecida já há algum tempo, como “chutar e matar” usa dez aplicações de vorinostat ao longo de 28 dias – isso foi projetado para “lavar as células infectadas e matá-las”, deixando pouco ou nenhum DNA do HIV remanescente no corpo.

cd4ccr5_8009891971_oO estudo é desenhado para testar se a abordagem efetivamente reduz os níveis de HIV no DNA de células humanas, ou mesmo extirpar a infecção completamente. O estudo está medindo os níveis de DNA do HIV , na 40ª e 42ª semana após o início do tratamento, mas não é um  teste verificando se o tratamento pode ser completamente interrompido após 42 semanas.

O estudo RIVER visa recrutar 52 pessoas diagnosticadas com a infecção primária por HIV. O recrutamento tem lugar em clínicas em Londres e Brighton.

O que o estudo relatou?

O Sunday Times relatou que um participante do estudo não tem níveis detectáveis de HIV depois de completar o esquema do estudo.

Este participante continua sob terapia anti-retroviral (TARV).

Este participante não foi curado de infecção pelo HIV nesse  ponto:  o acompanhamento prolongado será necessário para determinar se o vírus foi erradicado inteiramente pelo tratamento experimental.

Professora Sarah Fidler do Imperial College, Londres, disse ao Sunday Times: “Vamos continuar com testes médicos pelos próximos cinco anos e, no momento, não estamos recomendando a suspensão de TARV, mas no futuro, (cinco anos à frente, reforça o editor de Soropositivo.Org) dependendo dos  resultados do teste talvez possamos explora este passo“.

O estudo RIVER não deve ter testes completos sobre todos os participantes até Dezembro de 2017, o mais rapidamente possível, de modo a que os resultados do estudo estarão disponíveis e susceptíveis de serem relatados no primeiro semestre de 2018. Nessa fase os pesquisadores serão capazes de dizer se houve ou não a eliminação de todos os vestígios do HIV no DNA de participantes do esquema experimental. Mas o verdadeiro teste de um esquema de erradicação terá de ser feito para verificar o que acontece quando o tratamento é interrompido.

berlin-patient-Timothy-Ray-Brown

Até à data, a única pessoa que parece ter sido curado da infecção pelo HIV é Timothy Ray Brown,o tão falado “!paciente de Berlin que perdeu todos os elementos de prova da infecção por HIV após um transplante de medula óssea.  Um estudo mais recente de semelhante receptores de transplante de medula com HIV (a ser traduzido) Identificou que as pessoas que tinham carga viral indetectável e não detectáveis de HIV no DNA de suas células, têm, no entanto, experimentado rebotes virais após o tratamento ser interrompido – por vezes após um longo intervalo. Um seguimento a longo prazo será essencial para quem observar o que acontece a quem interrompe o tratamento, a fim de determinar se o HIV foi verdadeiramente erradicado do corpo. [Nota do editor: no meu modesto entendimento, com mais de quinze anos lendo, traduzindo e acompanhando estudos, talvez seja necessário seguir e acompanhar a saúde destas pessoas por todo o restante de suas vidas para se chegar, quem sabe(???) a alguma conclusão que possa ser tida como definitiva numa ciência que, segundos me dizem os médicos que me tem atendido ao longo dos últimos 22 anos, nada é cem por cento confiável…}]

Se os participantes interromperem o tratamento após o término do estudo, partindo do princípio de que o regime venha a ser bem-sucedido na demonstração da avaliação que aferirá se o de DNA do HIV estão indetectáveis, será uma questão de discussão entre pesquisadores e participantes do estudo e dependerá da melhor informação disponível naquele momento sobre as consequências da suspensão do tratamento. Em outras palavras, é muito prematuro um relatório ou uma manchete falando em um avanço em direção à cura e, que se dizer então, de manchetes falando em CURA DO HIV.

Traduzido literalmente em regime de urgência por Cláudio Souza, do original em Media reports of a British HIV cure ‘breakthrough’ are premature, escrito por Keith Alcorn e revisado por Mara Macedo

Para aqueles que chegaram até aqui e querem um pouco mais de realismo, eu os convido a clicar no link adiante e vocês verão que, de alguma forma, até hoje, desde 1996, quando surgiu a terapia combinada com três drogas, sendo uma delas um inibidos de protease, os cientistas dizem que, desde então, praticamente pouca coisa e quase nada mudou desde então

Reeditado na terça feita, 04 de Outubro de 2016

Publicado original e simultaneamente em: 03 de Outubro de 2016 pelo AIDSMAP (fonte original em Inglês) e em Soropositivo.Org na sua versão em português do Brasil


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