Cura do HIV? Brasileiro Sem HIV – Sem Um Transplante De Células-Tronco

Recentemente, a 23ª Conferência Internacional da AIDS (AIDS 2020: virtual) trouxe um relatório promissor. Um homem em São Paulo, sem sinais de HIV detectáveis após mais de 15 meses sem antirretrovirais, pode ser o primeiro caso de cura funcional sem os riscos associados ao transplante de células-tronco.

Como parte de um ensaio clínico, esse homem de 35 anos recebeu dois antirretrovirais adicionais, o dolutegravir (Tivicay) e maraviroc (Celsentri), além de nicotinamida, uma forma solúvel de vitamina B3. Ele interrompeu o tratamento em março de 2019 e, desde então, não apresenta sinais de RNA de HIV ou DNA viral detectável, indicando que o HIV pode estar em remissão.

Contudo, especialistas advertem que este é um único caso, e mais testes são necessários antes de celebrar uma cura. A mídia, muitas vezes, prioriza histórias sensacionais, mas é essencial manter um ceticismo saudável enquanto mais dados são coletados.

Até hoje, apenas dois pacientes foram considerados curados do HIV: Timothy Ray Brown, o “Paciente de Berlim”, e o “Paciente de Londres”, ambos após transplantes de medula óssea com doadores portadores de uma rara mutação genética conhecida como CCR5-delta-32.

Esse procedimento, porém, é altamente perigoso e caro, sendo impraticável para grande parte das pessoas vivendo com HIV. O caso do brasileiro representa uma esperança de que, no futuro, uma combinação de medicamentos possa ser uma solução segura e acessível.

O ensaio clínico, liderado pela Universidade de São Paulo e pelo Instituto Italiano de Saúde de Roma, busca reduzir o “reservatório” de HIV latente nas células, inatingível pelos antirretrovirais comuns. A nicotinamida parece desempenhar um papel importante ao impedir a apoptose das células T, mantendo-as ativas na luta contra o vírus.

Apesar dos resultados animadores, o co-presidente da conferência, Anton Pozniak, e o especialista Steven Deeks, pedem cautela. Outros casos, como o famoso “bebê do Mississippi”, mostraram remissão temporária, mas o vírus voltou a ser detectado após algum tempo.

Por enquanto, as pessoas não devem fazer mudanças drásticas em seus tratamentos sem orientação médica. A combinação exata que levou à remissão deste homem ainda está sendo investigada, e mais pesquisas são necessárias para determinar se isso pode ser replicado em grande escala.


  • Diaz RK et al. “A primeira remissão a longo prazo da infecção crônica pelo HIV-1 sem mieloablação?” 23ª Conferência Internacional sobre AIDS, resumo OAX B0105, 2020.

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