Viver com HIV: Aceitação e Planejamento de Vida

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Eu, Cláudio Souza, do Blog Soropositivo, não penso em cura da AIDS. Não para mim.
Eu temo um processo de perda de identidade. Acho que, após ler tudo isso que escrevi até agora, você sabe que estudei muito sobre “a coisa” e, de alguma forma, aceitei minha condição. Não penso na cura que pode surgir amanhã; penso no hoje. Busco fazer tudo de forma correta, de modo que, quando me deito, se eu conseguir dormir (minha média de sono é de 4 a 5 horas por dia), eu mereça que Deus considere justo me conceder mais um dia.

Apesar de tudo, tenho planos. Planos que só poderão se concretizar se eu viver, pelo menos, mais treze anos, para ver minha cidade, São Paulo, completar 475 anos!

Isso porque uso a linha 4 do metrô em São Paulo. Ao atravessar os limiares de qualquer estação do metrô que faz integração com a linha 4, a mudança de ambiente, a luminosidade, os painéis informativos, tudo, até mesmo a energia que emana desses lugares, é diferente de tudo o que já vi em São Paulo. Se há uma cidade que conheço bem, é esta onde nasci.

Mas eu penso em cura… Para vocês que me leem e, infelizmente, foram colhidos pela infecção por HIV.

Gostaria de poder dar essa notícia — talvez até em primeira mão (vaidade das vaidades… tudo é vaidade) — e ficaria feliz se isso acontecesse. No entanto, não sei se buscaria a “minha cura…” Escrevi tudo isso para que as pessoas que alcançarem estes escritos reflitam sobre duas coisas.

Primeiro, usem camisinha. Apesar do tratamento (perdoem-me os que já vivem nesta condição, busco aqui um bem maior), a infecção por HIV é uma doença crônica, progressiva e degenerativa, com evolução diferente de paciente para paciente.

Sim, eu vivo há 22 anos com HIV e estou vivo. Mais do que isso: faço uma hora de esteira com inclinação de até 14% e uma hora de musculação, duas vezes por semana. Mas, mesmo assim, a meningite que foi “o lance de sorte que me facultou o diagnóstico” deixou algo em mim. Há três ou quatro anos, venho convivendo com neuropatia periférica. Tudo que você leu aqui foi digitado apenas com os dedos indicadores de cada mão, porque os nervos que controlavam os outros dedos já não conduzem os estímulos nervosos corretamente. Eu mal posso assinar documentos.

A segunda coisa é: “Teste-se”. Quanto mais cedo for diagnosticado, melhores serão os prognósticos de sobrevivência. Dificilmente alguém desenvolverá neuropatia periférica ou AIDS se mantiver uma rotina de sexo seguro e, ainda assim, fizer o teste pelo menos uma vez por ano.

Quanto à sua pergunta, Guilherme, dez segundos não fariam diferença. Mas lembre-se de que a transmissão do HIV depende de vários fatores: por onde o vírus tentou entrar, a quantidade de vírus à qual você foi exposto e por quanto tempo durou essa exposição.

Parece difícil contrair HIV, e, no entanto, mais de trinta milhões de pessoas já perderam suas vidas por causa das consequências da infecção. Estima-se que, hoje, haja trinta e cinco milhões de pessoas infectadas nas regiões em que a Organização Mundial da Saúde consegue mensurar. Enquanto isso, no Oriente Médio e na Ásia, o HIV se espalha como fogo sob a tundra, se é que você me entende. Temo muito pela gravíssima crise humanitária que o planeta assistirá se nada for feito para impedir isso — colocando-se de lado questões religiosas, morais e políticas, agindo apenas com humanismo e ética. Mas não a ética de certos “comitês de ética”, que favorecem pulhas e salteadores em todo o planeta.

Gaia está muito zangada conosco.

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