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Podemos foirçar o HIV a sair de seus reservatórios e esconderijos por meio da imunoterapia contra o câncer
A imunoterapia pode não ser a solução definitiva para a cura do HIV, como veremos a seguir, mas mostra ser possível “acordar” os vírus latentes/adormecidos.
O medicamento Keytruda tem o potencial de ativar células T que abrigam o HIV latente, um passo promissor rumo a uma cura funcional.
Uma droga amplamente utilizada em imunoterapia contra o câncer pode fazer o HIV latente emergir de seus esconderijos. Potencialmente, ser usada em combinação com outras terapias para alcançar uma remissão de longo prazo, segundo pesquisa publicada na Science Translational Medicine.
“Ser capaz de impedir que o HIV se esconda nas células é um passo importante na busca pela cura, o que representa um progresso empolgante”! Q afirmou Adeeba Kamarulzaman, presidente da Sociedade Internacional de AIDS. Pessoas com HIV e câncer, tratadas com o inibidor anti-PD-1 Keytruda (pembrolizumab), apresentaram aumento da carga viral de HIV, sugerindo que o medicamento ativou células T que continham reservatórios de HIV. “Estamos tentando entender como o anti-PD-1 afeta as células T assassinas específicas do HIV, na esperança de que, além de reverter a latência, ele também reative o sistema imunológico para atacar as células infectadas”, explicou Sharon Lewin, do Instituto Peter Doherty de Infecção e Imunidade da Universidade de Melbourne, em comunicado à imprensa. A última década trouxe avanços, mas também frustrações, na busca por uma cura funcional do HIV, ou seja, uma remissão viral sustentada sem o uso de terapia antirretroviral. Como observador próximo desses eventos, posso dizer que os acompanho desde o início. O HIV ´pe controlado por uma Terapia Antirretroviral (TA|RV) consistente. Contudo, o vírus se insere no DNA das células humanas, estabelecendo um reservatório latente de longa duração, invisível ao sistema imunológico e inalcançável pelos medicamentos — o que representa um obstáculo para a cura. Esses vírus latentes permanecem adormecidos nas células T indefinidamente, mas começam a produzir novos vírus quando há a interrupção do tratamento. Exploramos diversos esquemas terapêuticos para alcançar a remissão a longo prazo. A estratégia “choque e morte” busca despertar esses vírus adormecidos com medicamentos que revertem a latência e trazem o HIV à superfície, enquanto a abordagem “bloquear e trancar” visa manter o vírus adormecido. Lewin e sua equipe avaliaram o impacto do Keytruda sobre a latência do HIV em 32 pessoas com HIV e câncer que estavam em terapia antirretroviral. O medicamento foi administrado por infusão intravenosa a cada três semanas. Os inibidores de pontos de verificação são anticorpos monoclonais que bloqueiam o PD-1, restaurando a atividade das células T. O Keytruda, o primeiro inibidor anti-PD-1 aprovado, é amplamente utilizado no tratamento cânceres como o de mama, pulmão, cólon e melanoma. Após a primeira infusão, o RNA do HIV aumentou em 1,32 vezes e a proporção de RNA do HIV em células T CD4 aumentou em 1,61 vezes. A carga viral de RNA do HIV no sangue subiu 1,65 vezes. Após seis ciclos de Keytruda, os participantes do estudo apresentaram mais células T CD4 capazes de produzir novos vírus, mas o número total de células infectadas pelo HIV não aumentou. Esses dados sugerem que o Keytruda pode reverter a latência do HIV, tornando-o visível ao sistema imunológico e suscetível aos antirretrovirais. Isso apoia a ideia de combinar inibidores de PD-1 com outras terapias para reduzir o reservatório do HIV, concluíram os pesquisadores. Porém, liberar células T com inibidores de pontos de verificação pode causar inflamação excessiva, prejudicando órgãos em todo o corpo. Isso limita o uso dessa estratégia em pessoas soropositivas que não têm câncer e estão bem controladas com a terapia antirretroviral. A equipe de Lewin está iniciando um estudo para avaliar se uma dose baixa de Keytruda é segura para essa população. “Não é simples trazer essa abordagem para a clínica em pessoas vivendo com HIV sem câncer”, afirmou Lewin. “Os efeitos colaterais da imunoterapia são significativos. Entre 5% e 10% das pessoas podem ter um evento adverso.” Em cenários de câncer, isso é aceitável, já que a doença ameaça a vida, mas no caso do HIV, onde as pessoas podem viver vidas longas e saudáveis, qualquer intervenção precisa ter uma toxicidade mínima.O HIV latente: um desafio na busca pela cura da infecção