Polineuropatia Por HIV na Era Da TARV

A infecção pelo HIV pode causar diversos problemas, incluindo complicações que afetam os nervos. O sistema nervoso periférico, que se estende por todo o corpo fora do cérebro, pode ser gravemente afetado pela neuropatia periférica. Desde o início da epidemia de HIV, médicos em Manhattan observaram lesões nos nervos dos pés e pernas em pessoas com HIV. Essas lesões, conhecidas como neuropatia periférica, geralmente começam nos dedos dos pés, avançando para os pés e pernas, causando dormência, dor e sensações intermitentes, como queimação ou sensação de choque.

Nos anos 1980, quando não havia tratamentos eficazes, a neuropatia periférica era muitas vezes uma consequência direta da infecção por HIV não tratada. Já nos anos 1990, a neuropatia também podia ser causada por certos medicamentos anti-HIV, conhecidos como “drogas d” (d4T, ddI e ddC), que apresentavam alta toxicidade para as células nervosas. Embora essas drogas não sejam mais recomendadas nos tratamentos modernos, a neuropatia periférica continua sendo uma preocupação.

Recentemente, pesquisadores dos EUA estudaram as causas potenciais da neuropatia periférica em pessoas HIV positivas, acompanhando cerca de 500 participantes ao longo de dois anos. Os resultados indicaram que cerca de 27% dos participantes desenvolveram neuropatia periférica durante o estudo. Fatores como idade avançada, carga viral detectável, interrupção do tratamento antirretroviral (TARV) e uso de substâncias psicoativas foram associados a um maior risco de desenvolver essa condição.

Entre os fatores mais associados ao desenvolvimento da neuropatia periférica em pessoas com HIV, destacam-se:

  • Idade acima de 50 anos: à medida que as pessoas vivem mais com HIV, o risco de neuropatia aumenta.
  • Carga viral detectável: a inflamação dos nervos periféricos é maior em pessoas com HIV não controlado.
  • Interrupção do tratamento antirretroviral (TARV): pessoas que pararam de usar TARV tinham maiores chances de desenvolver neuropatia.
  • Uso de substâncias psicoativas: opiáceos e outras drogas psicoativas foram ligados a um risco aumentado de neuropatia.

A neuropatia periférica pode causar dores intensas e crônicas, resultando em grande sofrimento, limitação física e redução da qualidade de vida. Em alguns casos, como o meu, a dor neuropática foi tão severa que me acordava durante a noite com meus próprios gemidos de dor. A intensidade era tal que, sem o tratamento adequado, eu poderia ter ficado permanentemente imobilizado. Por 15 anos, precisei usar uma bengala para andar, até que, felizmente, encontrei uma médica com mente aberta o suficiente para me prescrever óleo de canabidiol (CBD). Esse tratamento interrompeu o ciclo destrutivo de dores e incapacidades, permitindo-me continuar ativo. No entanto, o que me restou, e que torna tudo tão difícil para mim, é a capacidade de digitar apenas com os dedos indicadores de cada mão. Eu era programador, mas como posso programar assim?

Além da dor física, a neuropatia muitas vezes contribui para problemas de saúde mental, como depressão. A interação entre a dor, o uso de substâncias e a depressão pode criar um ciclo difícil de quebrar, piorando a condição do paciente. Por isso, é fundamental que tanto a dor quanto o bem-estar emocional sejam monitorados e tratados de maneira integrada.

Embora o canabidiol tenha trazido alívio significativo, permitindo que eu continue, uma das maiores dificuldades que enfrento é a limitação nas minhas mãos. Mesmo como DJ, algo que eu amo tanto, às vezes encontro dificuldades. Já pensei em desistir… Desistir de ser DJ, algo que define uma parte tão grande de quem sou, seria como desistir de mim mesmo — e eu simplesmente não sei como desistir.

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Os achados da era atual são importantes, pois mostram que os fatores de risco para neuropatia periférica mudaram ao longo do tempo. No passado, condições como diabetes tipo 2 e o uso de certas drogas estavam mais relacionadas à neuropatia. Hoje, com a melhoria dos tratamentos e a menor utilização de “drogas d”, outros fatores, como a carga viral não controlada e o uso de substâncias psicoativas, surgem como grandes contribuintes para essa condição.

Por outro lado, o estudo também mostra que o uso de álcool e a toxicodependência permanecem como cofatores importantes para o desenvolvimento da neuropatia periférica. O álcool pode ser tóxico para os nervos e esgota nutrientes essenciais, como as vitaminas do complexo B, necessárias para a saúde das células nervosas.

A neuropatia periférica pode causar grande sofrimento, incapacidade e redução da qualidade de vida. Os pesquisadores afirmam que a dor neuropática pode ser extremamente severa, e embora, em alguns casos, ela desapareça ou entre em remissão espontaneamente ou com tratamento, também pode voltar em momentos posteriores. Por isso, é importante que mais pesquisas sejam realizadas para prevenir a neuropatia periférica, especialmente entre pessoas de alto risco, como aquelas que usam opioides ou enfrentam depressão.

Nerve pain and numbness – Practical Guide to HIV Drug Side Effects

Ask the Experts: Peripheral Neuropathy – The Positive Side

—Sean R. Hosein

 

http://www.catie.ca/en/catienews/2015-03-31/predictors-hiv-related-peripheral-neuropathy-modern-era

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This information was provided by CATIE (Canadian AIDS Treatment Information Exchange). For more information, contact CATIE at 1.800.263.1638 or info@catie.ca.

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This content was originally published by CATIE, Canada’s source for HIV and hepatitis C information.

 

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