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Hércules

A história de um gigante
Hércules foi, como bem descreve a Luna, um Gigante. Lutou pela criação de uma sala de bate-papo no UOL que fosse voltada ao HIV. A sala não cresceu rapidamente, mas cresceu e, hoje, são cinco salas. Dezessete anos atrás eu entrei em ma das duas salas e encontrei, entre muitas pessoas uma moça que se apresentava como Mariana. Eu não sabia, ainda, mas ela viria a ser a Mulher de Minha Vida, com a qual compartilho tudo, e de quem recebo mais do que mereço. Não sei quantas histórias como a minha e a de Mariana realmente aconteceram lá, mas eu sei, por intuição, sendo muitas. Hércules, eu não o conheci em vida e, para mim, isso é uma lástima. Espero, sinceramente, que você, onde quer que esteja, possa ler este texto, ver meu depoimento e receber de nossos corações toda a gratidão e amor que temos por você. Quem quiser ir conhecer a sala número um do chat para soropositivos no UOL, basta clicar neste link.

Ho­je, quero falar sobre uma pess­oa que mar­cou e me en­sin­ou muito..mesmo no seu pi­or mo­mento….

Já havia es­crito sobre ele aqui, mas não sei o que aconte­ceu que chegou em branco pro Claudi­us.

É sobre meu querido pres­id­ente… que talvez al­gu­mas pess­oas aqui que frequentam ou frequentavam a sala de HIV da uol, ten­ham con­hecido, o Hércules.

Te­clava de vez em quando com ele, não éramos pro­pri­a­mente ami­gos não, mas sempre senti por ele um enorme carinho, uma grat­idão por ele ter me dado aquela sa­linha, que mui­tos ho­je pensam que foi mera bondade da uol, coisa que não foi; ele que a cri­ou em 1997 e pelo que me con­taram, ele vivia soz­inho la den­tro, tor­cendo para al­guém en­trar…

En­fim, me sen­tia grata. Porque aquela sa­linha me deu muito, muito mesmo, me fez deix­ar de ser uma “tragédia am­bu­lante”, poder de­saba­far, tro­car históri­as, ex­periências e fazer grandes ami­gos.

Fiquei um tempo sem aces­sar. Um pou­co mais de uma se­m­ana, e quando voltei, fui direto ao mur­al. Para ver se tinha novid­ade, e quando vejo vári­os re­ca­dos falando sobre o Hércules, que ele es­tava in­ter­nado na UTI quase mor­rendo… fiquei em choque… deses­per­ada para saber algo mais, o hos­pit­al que ele es­tava, horário de vis­itas, etc.

Lig­ava to­do dia p/ lá para saber como ele es­tava, mas como era UTI, não po­diam me falar nada… até que ele mel­hor­ou e foi p/ o quarto… dis­seram ser quase um mil­agre porque ele es­tava ruim mesmo… mas que bom, ele agora es­tava mel­hor, sem tubo, sem sonda… e eu respirei fundo, tomei cor­agem e fui lá vê-lo… tava com frio na bar­riga, não sabia se ele iria gostar de me re­ce­ber e nem se se lem­brar­ia de mim. Ou melhor, do meu nick…

Porque até então éramos nicks… Mas respirei fundo e en­trei no quarto

lá vi, numa cama, um homem de traços for­tes, corpo de­bil­it­ado e muito emagre­cido…me ol­hando meio es­tranho, e eu, todinha sere­lepe, abri um sor­riso e o ab­race, dizendo:

Hércules, eu sou a Lun­aluz…! Penso que ele não se lem­brou, mas eu nem liguei, con­tin­uei com meu sor­riso no rosto e ten­tei fin­gir al­guma in­tim­id­ade para coisa fluir mel­hor…

Come­cei a vis­itá-lo quase to­dos os di­as e como sou aux­il­i­ar de en­fer­magem, cui­dava dele, no que po­dia e, no começo ele não gostava não

Tinha ver­gonha mas,  gradualmente foi se acos­tumando com minha presença in­sist­ente e risonha…

Ele es­tava prat­ica­mente curado da terrível pneu­mo­nia.

 

So que seu corpo es­tava fra­gil­iz­ado, pre­cis­ava ficar forte para re­ce­ber alta, mas ele não co­mia, não conseguia comer, não quer­ia, in­clus­ive, to­mar remédio… ele es­tava cansado de seus mais de 13 anos de HIV e quer­ia sair dali…

Ele mesmo me pe­diu para tirá-lo da­quilo tudo, mas o que eu po­der­ia fazer?…

Para quem o con­heceu sabia bem como era seu gênio turrão, teimoso e, às vezes, ele até me xingava, mas sei estar apen­as ex­tra­vas­ando…

Era o jeito dele… e eu aprendi a amá-lo… daquele jeit­inho mesmo, e quando ele ab­ria um sor­riso para mim naquela cama… ah…que fe­li­cid­ade!

Creio que, aos pou­cos,  ele foi gostando de mim também…

Deixei de ir vis­itá-lo por uma se­m­ana… e quando entrei no mur­al de re­ca­dos… bum!

Fiquei estática, lendo que ele havia acabado de fa­le­cer.

Isso acabou comigo, fiquei re­voltada, não me conformava e, por um mo­mento, senti até raiva dele.

Pensava que ele dever­ia ter lutado mais…

E pen­sei..”a AIDS venceu”, mas, em seguida, fui ac­almando, e per­cebendo que ele não havia sido fraco.

Que ele foi forte, omo o Hércules das históri­as…

Ele lutou, lutou… Per­sis­tiu, cri­ou a sa­linha para que to­dos, in­clus­ive ele, con­seguisse con­viver mel­hor com o bichinho, mas, simples­mente não deu mais, eu corpo es­tava muito de­bil­it­ado, e já não po­der­ia mais acom­pan­har o seu es­pirito…

E ele não aguentou…

A AIDS não venceu… ele foi imensamente mais forte do que ela… ele gan­hou a BATALHA… e ainda deix­ou uma grande arma para a gente…

Quando en­tra al­guém deses­per­ado, descon­sol­ado naquela sa­linha vir­tu­al, lem­bro-me dele, lem­bro-me de mim em out­ros tem­pos… e per­cebo o quanto o JORGE foi HÉRCULES!…

E sempre será Meu Querido PRES­ID­ENTE.

 


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