Viver com HIV: Superando Estigmas e Encontrando Prazer

Em 1994, fui diagnosticado com uma expectativa de menos de seis meses de vida. No entanto, aqui estou em 2024, e posso dizer que já enterrei muita gente que me chamou de “Dead man walking” (homem morto andando). Por isso, achei interessante refletir sobre o estigma e a realidade de viver com HIV, tema abordado no texto abaixo.

Sentimentos, Neuras e Paranoias com Sexo após o Diagnóstico de HIV Positivo

Por Krishen Samuel

O estigma do HIV pode afetar profundamente como você se sente em relação ao sexo. Tanto os sentimentos positivos quanto os negativos são uma parte normal da adaptação ao diagnóstico. No entanto, a sorologia não deve impedir você de ter prazer, intimidade e felicidade. Desfrutar de uma vida sexual saudável contribui para a qualidade de vida e ajuda na saúde mental.

Sexo, intimidade e prazer físico são essenciais para o bem-estar, e isso não muda se você vive com HIV. As pessoas com HIV desejam as mesmas coisas que qualquer outra pessoa – amor, afeto e a satisfação que o sexo pode proporcionar. No entanto, o diagnóstico muitas vezes complica os sentimentos em relação ao sexo, seja pelo fato de o HIV ser frequentemente transmitido sexualmente, seja pelo estigma associado à doença.

Infelizmente, muitas pessoas com HIV internalizam essas crenças estigmatizantes, o que pode afetar sua autoestima e gerar a sensação de não serem desejáveis ou merecedoras de prazer e intimidade. Mesmo com o conhecimento de que pessoas com HIV podem ter vidas longas e saudáveis, e que “indetectável = intransmissível” (I=I), o estigma ainda persiste.

Eu, Cláudio, passei por essa experiência. Em uma discussão, uma pessoa que conhecia minha condição desde o início disse: “E eu aqui me arriscando.” Sua fala, cheia de ignorância e preconceito, me levou a expulsá-la de minha vida, jogando suas coisas pela janela do quinto andar.

Esses momentos de rejeição e preconceito são dolorosos. Mas também ensinam que precisamos nos afastar de pessoas que não nos aceitam como somos.

O HIV pode fazer com que você sinta que sua vida sexual e amorosa foram comprometidas, mas não deveria ser assim. Na época do meu diagnóstico, o sexo foi tratado como um risco de vida, com a constante preocupação de que a reinfecção com diferentes cepas virais poderia levar à resistência aos medicamentos. Embora esses temores tenham sido exagerados pela falta de conhecimento da época, eles deixaram marcas.

No meu caso, passei por situações que afetaram profundamente minha percepção sobre sexo. Uma vez, em uma boate, fui sexualmente abusado por uma mulher que ignorava completamente os riscos. Isso só reforçou o quão pouco as pessoas sabiam sobre o HIV, e como o estigma e a desinformação podiam influenciar suas atitudes.

Sentimentos de culpa e vergonha muitas vezes acompanham o diagnóstico de HIV. No meu caso, entrei em contato com antigas parceiras para garantir que nenhuma delas havia sido contaminada. Felizmente, todas estavam bem, mas a carga emocional que isso trouxe foi imensa. O sentimento de ser uma “pessoa horrível” consumiu meus pensamentos por muito tempo.

Entretanto, é importante lembrar que a culpa e a vergonha não ajudam na recuperação. Precisamos aprender a tratar a nós mesmos com a mesma compaixão que ofereceríamos a um amigo.

As reações ao diagnóstico de HIV variam muito de pessoa para pessoa. Para alguns, pode ser um choque devastador. Para outros, pode ser um alívio, pois não precisam mais viver com o medo constante de contrair o vírus. Cada pessoa processa o diagnóstico de maneira diferente, e todas as reações são válidas.

Um dos maiores desafios após o diagnóstico é a reação das outras pessoas. Pode ser difícil lidar com a rejeição ou com perguntas invasivas sobre sua vida sexual. É importante definir limites e decidir com antecedência o que você deseja compartilhar sobre sua condição.

Quando se trata de relacionamentos, contar a um parceiro sobre seu diagnóstico de HIV pode ser uma das conversas mais difíceis. Embora a ciência por trás do conceito “indetectável = intransmissível” (I=I) seja sólida, nem todos os parceiros estão prontos para confiar imediatamente nela. A rejeição é uma possibilidade, mas, como em qualquer aspecto da vida, a fila anda.

Manter-se informado e educar os parceiros sobre o HIV é essencial para lidar com essas situações. Muitas pessoas com HIV descobrem que, ao alcançar uma carga viral indetectável, se sentem mais confiantes e menos preocupadas com a transmissão do vírus.

Uma vez que sua carga viral esteja indetectável por seis meses ou mais, o risco de transmissão do HIV durante o sexo é zero. Isso pode ser um grande alívio para muitas pessoas e permitir que elas desfrutem de uma vida sexual saudável e prazerosa.

É fundamental lembrar que o sexo é uma parte importante da vida, e o HIV não deve impedi-lo de viver essa parte plenamente. Continue se educando e se cercando de pessoas que entendem e respeitam sua condição.


Conclusão

Viver com HIV não significa abrir mão da sua vida sexual. Pelo contrário, é possível ter uma vida sexual saudável, segura e satisfatória. O estigma ainda existe, mas com o avanço da ciência e o conhecimento sobre o vírus, podemos superar esses desafios e viver plenamente. Não deixe que o HIV defina quem você é ou limite suas experiências de vida.

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