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Uma Soropositiva Que Não É Só Mais Uma Mulher Vivendo Com HIV

by Claudio Souza DJ, Bloqueiro

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Uma soropositiva que não é só Mais uma mulher vivendo com HIV

Angel… Mesmo sozinha, em meio a solidão, esta soropositiva não se permitia aventuras, mas teve muito, muito medo mesmo de ex­ame de sangue!

Assim como eu 😢[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][bs-embed url=”https://vimeo.com/345772674″ title=”Vídeo / Incorporar” show_title=”1″ icon=”” heading_color=”” heading_style=”default” title_link=”” bs-show-desktop=”1″ bs-show-tablet=”1″ bs-show-phone=”1″ bs-text-color-scheme=”” css=”” custom-css-class=”” custom-id=””][vc_column_text]

Uma Soropositiva que não é só mais uma mulher vivendo com HIV

Soropositiva? Sim! Eu nunca a vi. Shame on me

Sim! Ela não era uma qualquer! E não estava aberta a aparecer. Ainda era uma época de medo, a discriminação era crudelíssima. Enfim, nunca logrei êxito sequer em arrancar um número de telefone desta moça e, por fim, a vida nos afastou. O que houve com ela? Bem… Neste mundo, que não é de anjos, eu não a verei e, menos ainda, saberei algo a respeito dela e mesmo de seu destino. Pelos meus cálculos, se você, Angel, ainda estiver entre nós, está perto dos 49, talvez 58 anos, talvez 57, eu não posso afirmar. Não estranhe. Eu me importo com as pessoas, e só queria saber se você está bem!

Na minha vida, eu sempre tive muita ne­cessid­ade de pro­var que eu po­dia ser amada, sempre busquei o tal amor fren­et­ica­mente, sem muito critério, pensando poder ser aquele próximo rapaz que eu con­he­cesse de re­pente numa festa, numa viagem, em qualquer lugar, cont­anto que fosse de re­pente, sem muito critério de escolha.

Eu es­per­ava a real­ização total, vinda de um “qualquer um”… e com isso ia tent­ando, buscando, me en­tregando inteiramente a mui­tos que, com cer­teza, es­tavam longe de me mere­cer… e eu não tinha ca­pa­cid­ade de enxergar isso.

Até que um dia, no fi­nal de 89, uma des­sas tent­ativas se firm­ou e eu fui namor­ando e durou, durou e durou. (Infinito enquanto… Eita pergunta boa para um editor às três e dezesseis da matina!)

Com cer­teza ele não tinha muita com­petência para ser meu príncipe en­cantado, mas a mel­hor ca­ra­c­terística que o rapaz possuía era mostrar vont­ade de es­tar comigo.

E con­tinu­ar comigo até sabe Deus quando.

E isso era o que mais me en­cantava nele.

Soropositiva? Sim! Anjo? Não sei

A coisa pas­sou dos 5 anos… e eu já não via mais muita graça no meu com­pan­heiro, mas eu me mantinha fiel a ele e havia muito re­ceio de ter­min­ar o namoro por medo da sol­idão e medo, muito, muito medo, de cair nesse mundão, pro­cur­ando o tal amor de novo… Prin­cip­al­mente agora nesses tem­pos de AIDS, embora… bem que… Com a vida que eu le­vei até me es­tabil­iz­ar nesse namoro, eu sempre supunha que eu era uma forte can­did­ata a ser soropositiva para HIV. Eu nunca havia usado cam­isinha e já experimentara mui­tos namor­a­dos. Mas cadê cor­agem para fazer o ex­ame de sangue?

O ex­ame de sangue?

Certa ocasião em 93, eu tive que fazer uns ex­ames para ad­missão num novo emprego, e eu ficava tor­cendo para que eles não pe­d­is­sem o teste de HIV… e UFA, graças a Deus não pediram.

E lá fui eu, vivendo minha vid­inha, com meu namor­ad­inho firme, meu empreguinho – eu su­per saudável, alto as­tral, viva.

Eu já era Soropositiva para HIV e nem imaginava isso. “Temia”, mas…

Soropositiva. Uma entre poucas

É. Ela nunca foi, mesmo, uma “assim, assim, assim, assim“! Sempre estava se cuidando. Eu me lembro de estar de bate-papo com ela e, em uma dado momento ela dizer ir malhar e só voltava cinco ou seis horas depois! Ela, decididamente era “única”, singular Ela, decididamente era “única”, singular

Em ou­t­ubro 96 o rela­cio­na­mento fi­nal­mente acabou sem motivo muito es­pe­cial… era a saturação mesmo, e com cer­teza de am­bas as partes.

Eu come­cei a quer­er ol­har em volta, e pro­cur­ar um novo namor­ado – já havia al­gu­mas fantas­i­as de príncipe en­cantado na minha cabeça, mas eu quer­ia ir de­vag­ar, tent­ando me ad­aptar à vida de “mul­h­er soz­inha”.

Um mês para me descobrir soropositiva!

Não tive muito tempo – um mês de­pois, o tal ex-namor­ado me pro­cura para avis­ar que fez o teste de HIV (sabe lá porque ele cis­mou de fazer esse teste) e deu res­ultado pos­it­ivo.

Esse foi meu presente de 40 anos de vida: a obrig­at­or­iedade de fazer o teste, di­ante desta de­claração dele – o homem com quem eu fiz amor dur­ante 6 anos sem nunca ter me pro­tegido… e nem ele se pro­tegeu também. Eu, Cláudio, nunca soube sua carga viral!  Tomara que ela tenha estado viva até aqui, para saber que indetectável é igual a intransmissível!

Situação difícil e Estrume de Vaca

Vejam, o tratamento já foi uma barra. Na época em que ela, Angel, e eu, bem como Mara, Beatriz Pacheco, Beto Volpe e outros, como Sílvia Almeida começamos o tratamento, nós começamos o tratamento com remédios, ao toma-los, tínhamos a impressão de estarmos tomando suco de #¿$?%!¡ com cascalho, literalmente. Mas eu pensava: isso é vida. Ou ao menos sobrevivência, improvisando vida, até que as coisas melhorassem e, com efeito, elas melhoraram.

Eu me lembro de ter contado 44 comprimidos para serem tomados DUAS VEZES POR DIA!

Hoje, um comprimido, com três princípios ativos diferentes, muitas vezes, uma só tomada diária, basta.

Mas eu vou colar aqui uma coisa estúpida que eu  em um blog e trouxe para cá. O tal Blog, daquele aparente autômato, que nunca disse seu nome pessoal. E as pessoas acreditavam nele. Gente, eu quero ser cremado quando morrer e, se eu escrever um livro que mencione um só nome tirado deste blog, vocês podem jogar minhas cinzas em estrume de vaca, pois terá (teria) sido merecido

E foi o so­fri­mento… foi difícil, doeu muito… eu sabia que nunca ter­ia chance do res­ultado ser neg­at­ivo… era ÓBVIO que eu es­tava in­fectada…

Mulher Vivendo Com HIV

Eu pensava ir mor­rer no dia seguinte, ficava com medo até de res­pir­ar para não pegar al­guma doença no ar!

E vinha a pergunta:

 “Quem pas­sou pra quem essa bomba????????” e de­pois eu pensava:

– “De que adi­anta essa pre­ocu­pação? Estamos am­bos in­fecta­dos… temos mais é que nos cui­d­ar­mos.”

Pensamen­tos ro­lan­do na minha cabeça: – “Ai meu Deus… Que culpa, fui eu que pas­sei isso para ele, coit­ado”…

Eu soropositiva, tendo pena de quem talvez tivesse me passado

 

De­pois eu pensava: – “Ele tinha muita liber­dade… Saía muito soz­inho, com cer­teza pegou isso por aí e pas­sou para mim”!a “voz que me guia dizendo:

“Você está recebendo o que pediu, não traia, Sônia e nem sequer sua palavra”.

Tem­pos muito difíceis prin­cip­al­mente no as­pecto emo­cion­al, pois eu até ho­je escondo o vírus da minha família e dos meus mel­hores ami­gos.

Fe­l­iz­mente eu me ad­aptei muito bem à medicação e meu or­gan­ismo re­spondeu rápido, logo zer­ando a carga vir­al e aument­ando o CD4.

Fiquei nova­mente com o namor­ado por mais um ano… creio que a título de ser­mos “bengala” um pro outro, mas a gente acabou se afastando.

Ele logo se ar­ran­jou com outra e eu me re­col­hi.

Desde então, tem sido difícil eu me rela­cion­ar afetivamente e prin­cip­al­mente no sexo, pois eu sempre julgo que devo con­tar que sou uma mulher vivendo com HIV para aqueles que quer­em se aprox­i­m­ar sexu­al­mente. Mui­tos fo­gem, se apa­voram, e al­guns até nem acred­it­am em mim, pois pensam que quem tem HIV tem cara de doente e leva vida de doente, enquanto eu sou uma mul­h­er su­per saudável, cheia de dis­posição, bem cuid­ada, e modéstia à parte, bem bon­ita.

Esse é o as­pecto mais difícil da minha vida.

Ser Soropositiva e permanecer bela e atraente! Tarefa Difícil!

Porém, em out­ros as­pec­tos, minha vida mel­hor­ou tanto, mas tanto nesses 4 anos, que chego a me emo­cion­ar quando faço uma ret­ro­spectiva.

Eu, con­vivendo com esse bichinho in­fe­l­iz, pas­sei a me cuid­ar muito mais, pas­sei a me val­or­iz­ar muito mais e fiquei uma mul­h­er con­sist­ente, sabedora do meu val­or e es­tou sempre tendo em vista o mel­hor para mim, em to­dos os as­pec­tos.

Não aceito mais os “qualquer um” da vida…não aceito mais “qualquer coisinha”…es­tou sempre buscando e mereço o que é bom dessa vida..

Aprendizagem e Aprendizado De Mulher Vivendo com HIV

Eu aprendi também a enxergar mel­hor as coisas, e da­quilo que é ruim, eu passo longe.

Meu astral sempre foi altíssimo, e agora então, di­ante dessa vivência, é muito difícil al­guma be­steir­inha me deix­ar abal­ada.

Sou eu quem dá força para to­dos que me cer­cam e mal sabem eles o bichinho que eu tenho den­tro de mim… Liçãoz­inha dura essa… Mas com cer­teza valeu!

Soropositiva? Sim, é verdade. Mas Não Uma Pessoa Qualquer.  Disso eu tenho certeza!

Eu me amo muito ho­je em dia, sendouma mulher vivendo com HIV.

Antes dele (o HIV) eu só me ar­rasava.

Fica aí re­gis­trada essa história de uma soropositiva que não é mais uma que não é MAIS UMA, e sim, é a MINHA história de FORÇA para pas­sar para to­dos vocês.

http://soropositivowebsite.wpcomstaging.com/wp-content/uploads/2009/05/0niLOyhCd5g?rel=0
Uma nota importante do Editor:
Eu m dei cota aqui, agora, uns parágrafos acima, que ela conta que o presente de 40.º aniversário foi o resultado soropositiva! Quase vinte anos se passaram, Angel, e eu não sei nada de ti e, lede:

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Julho de 1988

https://www.facebook.com/CronicasDeMarthaMedeiros

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