Taxas de morte por suicídio entre pessoas com HIV é de 2%. O dobro da população em geral

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Os homens que vivem com o HIV têm uma elevada taxa de suicídio, especialmente no primeiro ano após o diagnóstico, de acordo com um estudo de quinze anos de quase noventa mil pessoas diagnosticadas com HIV na Inglaterra e no País de Gales, quando comparado contra a população em geral. Sara Croxford da Saúde Pública Inglaterra apresentou os resultados para o British HIV Association (BHIVA) conference Liverpool ontem.

“Nossos achados para salientar a necessidade de uma desconstrução do estigma em torno do HIV, desmentido o que foi dito nos tempos em que ninguém sabia nada e religiosos (sic) de má índole ajudaram a construir um mito, ainda existente, em que a pessoa com HIV são vítimas da “Ira de Deus”, bem como a necessidade de melhorias no suporte psicossocial e na triagem de rotina para a depressão e abuso de álcool e de droga psicotrópicas, ilícitas ou não, particularmente no momento do diagnóstico”, disse ela.

Suicídio consumado por soropositivo que perdeu o emprego por conta da condição sorológica e que ainda teve o auxílio doença negado

O suicídio tem figurado como causa mortis em numerosos estudos anteriores feito com as pessoas com HIV. Além disso, altas taxas de depressão, ansiedade e pensamentos suicidas foram vistas em numerosas coortes e investigações.

O estudo baseia-se numa coorte nacional abrangente de todas as 88.994 pessoas diagnosticadas com HIV na Inglaterra e no País de Gales entre 1997 e 2012. Esses dados foram ligados ao Instituto Nacional de Estatística ” dados de óbito, usando pseudo-identificadores tornados anônimos. Mortes relatadas pelos aspectos clínicos da infecção por hiv também foram incluídos.

Até o final de 2012, as mortes tinham sido registradas em 6% da coorte (5302 pessoas), representando uma taxa de mortalidade de todas as causas de 118 por 10.000 pessoa anos. A taxa de mortalidade foi seis vezes maior (600%) em pessoas com HIV do que na população geral. Atrasos nos testes, articulação de cuidados e tratamento foram os principais fatores que contribuíram para este aumento da mortalidade.

A mais importante causa de morte foram doenças definidoras de AIDS (58%), quase sempre em indivíduos que foram diagnosticados muito tarde. Mais de metade das pessoas que morreram de SIDA nunca tinham frequentado ambulatórios de cuidados relativos às pessoas vivendo com HIV sem cuidados clínicos ou nunca tinham tomado a TARV contra o HIV.

Outras causas de óbito de câncer (8%), doença cardiovascular ou acidente vascular cerebral (8%), infecções oportunistas (8%), doença hepática (5%), utilização abusiva de substâncias (3%) e suicídio (2%).

Olhando para as 96 mortes por suicídio em mais detalhes, 91 ocorreram em homens, com taxas semelhantes em homens homossexuais e heterossexuais. As taxas foram elevadas em usuários de drogas injetáveis, em comparação com outros grupos. As taxas de suicídio de mulheres não foram maiores do que aqueles na população geral.

Comparando as taxas de suicídio em homens com HIV às taxas em homens na população geral da mesma faixa etária (expressa através de taxas de mortalidade normalizadas ou RLG), a taxa era o dobro da população geral (ARM 2.2).

Quatro em dez suicídios ocorreram no primeiro ano após o diagnóstico. Durante este tempo, a taxa de suicídio em indivíduos do sexo masculino foi cinco vezes maior do que entre a população em geral (ARM 5.3).

Não houve evidência de uma queda em suicídios ao longo do período de estudo, 1997 a 2012. Os suicídios ocorreram tanto em pessoas ligadas e não ligadas aos cuidados de saúde e das pessoas em tratamento e das que abandonaram o tratamento.

Enquanto os pesquisadores não têm dados sobre fatores comportamentais ou sociais que possam explicar os achados deste estudo, particularmente a elevada taxa de suicídio no primeiro ano de um diagnóstico reagente para HIV sugerem que o estigma, as dificuldades de adaptação para com a nova realidade pós diagnose, bem como a prestação insuficiente de cuidados com a saúde mental e a falta de serviços de apoio contribuem ao suicídio.

Traduzido por Cláudio Souza do original escrito por Roger Pebody em Suicide accounts for 2% of deaths in people with HIV, twice the rate of the general population, publicado em 06 de Abril de 2017

Revisado Por Mara Macedo

References

Croxford S et al. Suicide among people diagnosed with HIV in England and Wales compared to the general population. British HIV Association conference, abstract O16, Liverpool, April 2017.

Croxford S et al. Mortality and causes of death in people diagnosed with HIV in the era of highly active antiretroviral therapy compared with the general population: an analysis of a national observational cohort. Lancet Public Health 2: e35–e46, 2017. (Full text freely available).

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