Hoje, dia 13 de novembro de 2016, completam-se, para mim, 22 anos de vida com HIV.

Muita gente nasceu nesta data e, se você que está me lendo agora, tiver nascido exatamente neste dia pare e pense: “Quanta coisa eu vivi desde que nasci”!

E certamente você se lembrará de, em algum momento, ter tido vontade já ter 18 anos e não ser um “di menor” para poder, por exemplo, entrar num hotel com aquela pessoa especial, que provavelmente não terá sido a primeira, mas…, mas foi a primeira conquista que você fez depois ter se “Consagrado Homem”!

Depois, reflita sobre mim. Mas não com os olhos da piedade, porque piedade é o pior sentimento que alguém pode sentir por mim, especialmente se eu assim o perceber…

Olhe-me com os olhos da razão e veja que eu parei de contar as pneumonias quando estava já pela oitava e que tive uma pneumocistose, uma pneumonia causada por um agente etiológico particularmente agressivo e que, em regra geral, mata em três dias; e, a despeito disso, eu sobrevivi!

Na lista de incidentes que eu tive com minha saúde há um diagnóstico de Trombo embolia pulmonar de repetição (eu tive duas), um enfarto, duas meningites, uma delas causada por criptococo, outro agente etiológico deveras agressivo e, a despeito disso tudo, eu ainda estou aqui escrevendo.

Mas isso tudo não é nada. Quando eu fui diagnosticado, eu era um DJ e tinha uma agenda eletrônica com mais de trezentos contatos e, para ser honesto, eu creio que liguei para uns vinte deles e quando as respostas começaram a se tornar repetitivas eu compreendi que seria gasto inútil de tempo e telefone neste “lance de tentar encontrar ajuda”.

Eu voltei para as ruas com trinta anos de idade; e digo voltei porque, dos doze aos dezessete e um pouquinho eu fui morador de rua. Mas isso já foi contato e basta procurar na sessão de depoimentos (histórias positivas (sic)) e procurar por Cláudio Souza. Eu acho que está só Cláudio ou Claudius (nome de imperador) e sinônimo de “o manco”. É, eu sei, eu dei muita mancada… :-(

 

Também há o relevante detalhe a ser informado aqui:

Provavelmente em março, em data ainda não determinada será lançado o livro de minhas memórias (ou a parte publicável dela) intitulado: Memórias de um Homem da Noite, que é uma versão diversa daquela dada pelas mulheres da noite (…) e, talvez, tão loquaz como a delas… (…)…

Dos “amigos daquela época” restou apenas um, que só fala comigo quando eu ligo e, uma vez que o custo da ligação é igual, devia haver alguma reciprocidade, que não há e eu fico meses e meses sem telefonar para ele.

Uma amiga, Elisabete Castro, -Bete, me procure…-, que conseguiu, para mim, uma vaga na Casa de Apoio Brenda Lee e lá eu pude, em três meses, recuperar meu peso normal, daquela época, que era de 100KG. Mas o ambiente na casa de apoio era péssimo e, para não enlouquecer lá dentro, haja vista que eu não podia sair para procurar emprego (eu era um dado estatístico que servia para garantir mais verba). Se alguém puder me explicar como um cabo da policial, naquela época, podia ter um Gol GTI 2.0 eu ficarei muito satisfeito, pois era ele que, depois de uma série de “Golpes de Estado”, assumira a presidência da casa e aí sim, foi foda…

Mas, para mim, não era muito, porque eu tinha de acompanhar uma pessoa, Waldir, que era fisicamente incapaz de cuidar de si e, como eram pequenas as necessidades dele, eu sempre tinha tempo para ajudar no amparo a outros pacientes, a darem a eles alguma esperança (que eu mesmo não tinha, haja vistas que o coquetel, como vocês gostam de chamar, ainda não tinha sido “inventado”!

Eu fiz muitos amigos e amigas lá e me lembro de um período de mais ou menos um mês em que eu não passei um só dia sem participar de um funeral enquanto pensava quando viria a ser o meu… (…) …

Ele, o funeral, ainda não veio.

É certo que virá, mas eu não me preocupo com isso.

Antes de me descobrir portador de HIV eu era, assim, uma espécie de “delinquente emocional”, que não media esforços para conquistar uma mulher, mesmo que isso significasse ter de contar “alguma mentira para ela”…

Isso mudou. Na primeira paulada que eu levei com a Dra. Guadalupe me dizendo que eu teria de ir até o CRT-A para fazer um exame de confirmação para o HIV, pois meu primeiro teste dera positivo.

Passei, desde então, por uma imensa reforma íntima e ousaria dizer, de mim, agora, que sou uma pessoa melhor e em especial agora, que encontrei uma analista que conseguiu, inclusive, ajudar-me a recuperar coisas que minha consciência escondera de mim por não poder lidar com elas, a Maíra. Sim, eu sou impaciente, às vezes duro com as palavras e, em determinadas situações minha verborragia parece-se mais com a de um estivador do cais de Santos, do que o de uma pessoa que, enquanto morou na rua, pela primeira vez, as vezes ficava sem ter o que comer para comprar um livro, lê-lo, conseguir dinheiro para outro. Lê-lo e troca-los por um terceiro e assim por diante eu fui me instruindo, em meio à selvageria das ruas, onde, muitas vezes, eu comi do lixo do MC Donalds…

Isso não faz parte desta história, mas eu, depois de ter passado por duas casas de apoio, me convenci que não haveria casa de apoio para mim e fui para as ruas.

Catei papelão, puxei daquelas carroças, tinha de escolher entre comer ou dormir, mas fui fazendo o meu. Um dia eu tinha R$ 15,00 no meu bolso, fui à galeria Pajé, comprei dez daqueles bichinhos virtuais, conversei com uma pessoa, e ela me liberou para trabalhar naquela rua e eu fui.

Gritei: “Olha o bichinho virtual a cinco reais”!

E vendeu como água. Em pouco tempo eu consegui alugar um quarto numa pensão e, em mais algum tempo eu estava morando numa casa lá no Jardim Maria Dirce, em Guarulhos. Conheci uma pessoa que, em tese, teria aceito a minha condição, “por me amar” e eu vi que não era bem assim no dia em que ela disse:

-“Que doencinha de merda esta que você tem”!

E eu pensei: “Que lixo de mulher eu arranjei para mim”!

Eu a conhecera numa discoteca e logo no início eu temi pelo futuro daquela relação, e, mesmo assim, eu tentei tudo o que podia, até mudei poara a cidade de origem dela, no interior de São Paulo e, com o tempo eu vi que o relacionamento não progrediria eu depois de brigas e mais brigas, cansei, e, um dia, num momento em que eu nem na mesma cama com ela dormia, acordei, e bem me lembro, era um sábado de manhã e eu a vi sentada à mesa e disse:

“Bom dia”.

Ela não respondeu e eu fui mais assertivo:

-“Eu disse bom dia

E ela me saiu com está:

“COMO POSSO TER UM BOM DIA SE A PRIMEIRA PESSOA QUE EU VEJO É VOCÊ”?

Eu já havia tomado a decisão de separar-me dela e rebati àquela bola de voleio:

“Não se preocupe mais com isso, em menos de uma semana não haverá mais vestígios de minha presença em sua vida”

Agravou-se o caso porque uma pessoa da família dela perguntou se tal coisa (sorologia positiva para HIV) era real e o demônio disse não saber de nada.

Me fez passar por canalha.

Eu, puto da vida, por conta da mentira contada por aquela mulher

 

Isso só recrudesceu minha ira e na mesma anoite eu me abalei a São Paulo e fiquei um tempo num hotel, auxiliado por uma pessoa que me tinha em alta estima e, em algum momento eu claudiquei e traí a confiança dela. Em minha defesa, neste aspecto, mas eu só posso dizer que esta pessoa que me apoiava era também a causa primária de todo o desequilíbrio psiquiátrico em que eu era mantido e, numa noite de loucura… eu gastei R$ 3.000,00 em garotas de programa, tentando projetar em qualquer uma destas, àquela que eu, na época, realmente amava (Helen de Capri, estes tempos passaram, vocè é, hoje, uma lembrança as vezes doce, as vezes amarga, você sabe, eu sei que você sabe…).

Enfim, voltei para São Paulo.

Houve outros relacionamentos, é verdade e, infelizmente eu errei com uma pessoa e gostaria muito de poder saber se ela já pode ter alcançado o distanciamento dos fatos e que ela tenha visto que eu não estava centrado (eu estava completamente louco, procurando em dezenas de mulhers o que eu jamais poderia encontrar, pois cada pessoa é uma pessoa é uma pessoa e não há outra igual, com exceção de gêmeas, e que não via as coisas com clareza, que o que eu fiz em uma noite de insanidade eu não faria jamais se estivesse em sã consciência e Deus sabe o que eu perdi com isso, e que tenha me perdoado!… Mas não sei se, algum dia, ela poderá ver isso e, se viu, também creio que não poderei saber… (…) …

Oque eu não sei se você sabe é o buraco em que eu fui obrigado a me internar, uma kit com menos de 30 metros quadrados, de disposição quase triangular, onde, apesar de ter tido bons momentos, foi um dos piores lugares em que eu morei, incluindo nisso as ruas…

 

Foi no via em que eu vi esta pessoa que minha vida começou a mudar…

Enfim, depois de um pouco mais de um ano de loucura eu me decidi acabar com tudo, a loucura em que eu estava começando a me destruir, num contexto impublicável, eu peguei meu celular e liguei para a pessoa que, há mais de 15 anos, tem sido minha amiga, amante e companheira; “uma cúmplice”

OI!

OI!

Dá para você passar aqui hoje?

Hoje eu não posso.

Aí eu arrisquei tudo e pensei: Alea Jacta Est:

Disse a ela que desejava viver com ela, ser um casal.

Ela perguntou o meu devaneio tinha acabado eu fui taxativo: Acabou!

Conversamos por… celular por cinco  ou dez minutos talvez quinze minutos!  (Pouco importa! Eu só me lembro de ter perdido a noção do tempo uma semana depois estávamos vivendo juntos! E isso já existe há quase quinze anos),

Aqui uma breve homenagem

Mara T, M.: Esta música foi a idealização de Juca Chaves. Você a realizou para mim.

Te amo, hoje, mais que ontem e, tenho certeza, amanhã, amarei ainda mais…

E eu não teria podido realizar este tão pouco que eu realizes, não fora você!!!!!!!!!!!! :-)

Related posts

PrEP pode reduzir ainda mais o risco de infecção pelo HIV após parceiro iniciar tratamento

Mortes por AIDS entre adolescentes se elevaram em mais de cem por cento (duplicaram-se) em dezesseis anos

Homens a partir da meia-idade vivendo com HIV envelhecem mais rapidamente, comprova estudo de metilação do DNA 

2 comments

Fabio 13 de novembro de 2016 - 01:19
Vc ajuda muita gente, es uma pessoa como poucas no mundo, q DEUS t ilumine, Abraço.
Claudio Souza 13 de novembro de 2016 - 22:58
Obrigado e amém
Add Comment

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Read More