JOVENS EM RISCO: Atividade sexual e falta de prevenção elevam casos de câncer do colo do útero
Cláudio Motta e Vera Araújo
A atividade sexual precoce e o aumento do número de parceiros, associados à baixa frequência do uso de PRESERVATIVOS, elevam o risco de contaminação. Por isso, os jovens estão mais expostos às doenças sexualmente transmissíveis (DSTS), diz a ginecologista da UFRJ Michele Lopes Pedrosa.
As preocupações se voltam agora para a infecção pelo papilomavírus humano (HPV), que pode provocar câncer do colo do útero.
De acordo com a especialista, a vacina disponível no mercado, além de ser muito cara, vendida por mais de R$ 1 mil as três doses, é eficaz apenas contra dois tipos de vírus entre os 30 que podem causar a doença.
- A vacina é vendida como se resolvesse o problema, mas isso não é uma verdade absoluta.
Ela é eficaz para prevenir 70% dos casos, já que esses dois tipos são mais prevalentes, mas faltam 30%. Além disso, o Ministério da Saúde vem avaliando essa tecnologia. Ainda não temos clareza se no Brasil o índice de eficácia seria de 70%. A Espanha, por exemplo, disse que essa vacina não serve para ela, porque a prevalência de HPV lá é de outros tipos – alerta Michele.
A pesquisadora estudou o comportamento de adolescentes moradoras do Rio que apresentavam lesão pré-maligna, ou seja, a que pode evoluir para o câncer do colo do útero. Entre elas, a idade média na primeira relação sexual foi de 14,8 anos, apresentando em média três parceiros sexuais nos últimos dois anos. Apenas 20% disseram usar CAMISINHA de forma regular.
- Podemos dizer que, pela literatura mundial, cerca de 40% dos homens e mulheres apresentam HPV. E que o risco individual de se contraí-lo em algum momento da vida é de 80%. O câncer do colo do útero é uma das principais causas de adoecimento e morte de mulheres no Brasil – salienta Michele.
De acordo com o médico Carlos Dale, ginecologista da Casa de Saúde São José, a vacina é indicada para meninas entre 9 e 26 anos, porque elas produzem mais anticorpos até os 15 anos: – O grande vilão hoje é o HPV. Entre as meninas que estão começando hoje sua atividade sexual, 25% terão HPV. A vacina é cara, indicada para meninas com idade entre 9 e 26 anos. É importante dar a orientação correta. Eu digo: tomem pílulas para prevenir a gravidez e exijam CAMISINHA contra as DSTS.
Quando apareceram verrugas na área genital e uma ardência quase insuportável na hora de urinar, a jovem X., então com 25 anos, descobriu que contraíra o HPV. Por vergonha, ela demorou a procurar um ginecologista e se automedicou, tomando antibiótico.
Depois do susto, passou a exigir o PRESERVATIVO para ter relações sexuais.
- As verrugas externas sumiram. Depois resolvi procurar um ginecologista para saber se tinha alguma interna. E tinha. Mas tudo acabou bem. Me senti péssima, envergonhada e irresponsável. Fiquei com medo de câncer do colo do útero. Fiquei com muita raiva do meu parceiro, sim. O tratamento é desconfortável – disse X., hoje com 32 anos, sem nunca ter falado sobre o assunto com o ex-parceiro.
Em outra pesquisa, a ginecologista Michele analisou exames preventivos colhidos em unidades públicas de saúde da cidade. O número de lesões entre adolescentes dobrou entre 1999 e 2005 (de 6,4% para 12,4%), enquanto o de adultas subiu de 4% para 6,1%.
O chefe de oncologia clínica do Inca, Daniel Herchenhorn, lembra que o HPV também provoca infecções crônicas, que são benignas, além das malignas, os cânceres: – Basicamente, do colo do útero, de canal anal, de pênis e de amídala. O mais importante não é a vacina, mas o controle da atividade sexual e a ida frequente ao ginecologista.
O Ministério da Saúde está avaliando a incorporação da vacina contra o HPV ao seu calendário de imunização. O controle do câncer é considerado prioridade. Há dúvidas sobre a vacina, como a duração da imunidade, o seu uso em imunodeprimidos e gestantes e a necessidade de vacinação de reforço.
Professor da Maternidade-Escola da UFRJ e coordenador do programa Papo Cabeça, Leonídio Pereira alerta que as DSTS estão relacionadas à multiplicidade de parceiros e ao não uso de PRESERVATIVOS, principalmente quando a CAMISINHA é preterida em favor do anticoncepcional hormonal. Já a gravidez precoce é menos frequente na classe média: – A família de classe média compra a PÍLULA e paga o aborto. Essa jovem não entra para as estatísticas, mas o adolescente de classe média transa tanto quanto o de classe baixa.
O médico revela, ainda, que o aumento do consumo de álcool pela mulher contribui para um comportamento sexual de risco: – Há festas em que a bebida é de graça e a entrada para a mulher é livre.
Quando os homens chegam, as mulheres já estão alteradas pelo álcool.
A gravidez de Ângela Aguiar, então com 15 anos, não foi planejada. Ela conta que foi difícil contar a notícia para a família, mas que depois todos acabaram se acostumando com a ideia.
Aos 16 anos, mãe da Carolina, Ângela parou de estudar, mas espera poder voltar para a escola e ser médica.
- Meu medo maior era que ela engravidasse. Para mim, foi um choque – diz a mãe da jovem, Ângela Maria Aguiar, que cuidará da filha e da neta.
A gravidez de Luana, de 17 anos, foi descoberta pela mãe, Taísa Lima Santos, que suspeitou do atraso da menstruação da filha: – É desesperador descobrir que sua filha está grávida. Parece que você leva um tapa na cara, perde o chão, dá um vazio, mas fazer o quê? Sempre conversei, dei total liberdade. Poxa, ela é bem informada, estuda, frequenta o colégio, tem curso, tem as amigas, tem televisão. Hoje em dia, não tem desculpa. Tanta coisa, tantos métodos, como isso acontece? Vem a sensação de fracasso.
Será que, se eu tivesse sido tirana, o resultado seria outro? – pergunta Taísa.
Luana, por sua vez, diz que assumirá a responsabilidade, mas ainda não sabe quando voltará a estudar, nem se conseguirá entrar este ano em alguma faculdade: – Se foi maduro para fazer, tem que ser para criar.Tínhamos informações, demos mole, bobeamos.
Mandou bem
Enquanto muita gente usa a internet para disseminar a pornografia, há quem lance mão da rede para a conscientização. É o caso das mais de oito mil meninas integrantes da comunidade “Mães adolescentes – Gravidez”, no site de relacionamentos Orkut.
Na MAG, como é conhecida, jovens que engravidaram precocemente compartilham suas experiências, dão conselhos e tiram dúvidas das mamães de primeira viagem. A carioca Ingrid Amorim, de 18 anos, mãe de Kauã, de 1, é uma das participantes.
- A comunidade não incentiva as adolescentes a serem mães, mas apoia as que já estão grávidas.
Sempre digo às meninas que aparecem por lá querendo engravidar cedo que é melhor planejar a gravidez para depois que já estiverem formadas e com condições de sustentar seu filho – conta Ingrid, que engravidou aos 16 anos por um descuido na interrupção da PÍLULA e agora faz um curso supletivo para terminar o ensino médio.
O debate sobre os percalços da gravidez precoce não é só virtual. No mês passado, integrantes da MAG participaram de um encontro no Norte Shopping.
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