O sub-tipo de VIH e as doenças ulcerativas genitais influenciam o risco de transmissão da infecção entre os casais heterossexuais

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O sub-tipo de VIH e as doenças ulcerativas genitais influenciam o risco de transmissão da infecção entre os casais heterossexuais

Liz Highleyman, Wednesday, August 06, 2008

De acordo com um estudo realizado no Uganda e apresentado ontem na XVII Conferência Internacional de SIDA na Cidade do México, o sub-tipo viral pode influenciar a possibilidade de transmissão do VIH entre os casais heterossexuais, mas a existência de doença ulcerativa genital (DUG) tem um papel claro neste processo.

Noah Kiwanuka apresentou a análise dos dados de um estudo a longo prazo de colaboração entre o Uganda e os EUA, que pretendia avaliar a taxa e os factores de risco da transmissão do VIH entre casais heterossexuais serodiscordantes na região de Rakai, Uganda.

Com esta análise os investigadores pretendiam esclarecer se determinados sub-tipos de VIH estavam associados a uma maior taxa de transmissão.

Na base deste estudo, existiam dados laboratoriais que tinham demonstrado que os diferentes sub-tipos de VIH variavam entre si no que se refere às propriedades patogénicas, (tais como, robustez viral e tropismo CCR5 versus CXCR4) e estas diferenças podem influenciar a eficácia da transmissão da infecção, a progressão da doença e a resposta ao tratamento anti-retroviral.

O coorte de Rakai está a ser estudado desde 1994. Uma vez por ano os participantes preenchem um questionário sobre a sua saúde e sobre o respectivo comportamento sexual; realizam análises ao sangue, à urina e às secreções vaginais com o objectivo de testar a infecção pelo VIH e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Recebem preservativos e aconselhamento com vista à redução de riscos nas práticas sexuais.

A presente análise incluiu os dados de 271 casais serodiscordantes, em que o/a parceiro/a seronegativo/a para o VIH era monogâmico/a, (ou seja, só mantinha relações sexuais com o/a respectivo/a parceiro/a seropositivo/a) e do qual se conhecia o sub-tipo de VIH. Três quartos dos casais eram constituídos por um homem seropositivo para o VIH e uma mulher seronegativa.

Os/as parceiros/as seronegativos foram categorizados como tendo sido expostos à infecção pelo VIH durante a fase precoce da seroconversão (ou seja, no primeiro ano de infecção do respectivo parceiro/a), na fase de latência da infecção (ou seja, mais de 12 meses após a seroconversão do/a parceiro/a, mas antes da fase de SIDA) ou na fase tardia (isto é, na fase de SIDA). Contudo, apenas o grupo exposto na fase de latência foi considerado nesta análise, dado que se verificaram poucas transmissões da infecção pelo VIH nos outros dois grupos.

O sub-tipo do VIH mais frequente entre os/as parceiros/as seropositivos nesta análise, foi o sub-tipo D (73%), seguido por várias formas recombinantes ou híbridas (14%) e em último o sub-tipo A (11%).
Durante o seguimento, ocorreram 92 transmissões do VIH, representando cerca de um terço dos casais (taxa de incidência de 11,6 por 100 pessoas/ano). Não houve diferença entre a taxa de transmissão homem-mulher em comparação com a transmissão mulher-homem.

Após o ajuste dos factores idade, carga viral e existência de doença ulcerativa genital, verificou-se que a transmissão do sub-tipo A ocorreu cerca de duas vezes mais que o sub-tipo D (taxa ajustada 1.98). Os vírus recombinantes e o sub-tipo D foram transmitidos com igual frequência (1.07). Os vírus recombinantes foram transmitidos em menor frequência que o sub-tipo A, mas a diferença não foi estatisticamente significativa.

Os outros factores significativos na transmissão do VIH foram menor uso de preservativo, carga viral mais elevada e idade mais jovem do/a parceiro/a seropositivo/a (a transmissão foi quatro vezes mais frequente quando o/a parceiro/a seropositivo/a tinha menos de 30 anos, em comparação com os que tinham mais de 40 anos). Poucos homens eram circuncisados e a circuncisão não foi um factor significativo neste estudo.

A presença de úlceras genitais, especialmente no/a parceiro/a seronegativo para o VIH, teve também um efeito importante. Se um dos parceiros apresentava doença ulcerativa genital, o risco de transmissão do VIH aumentava para o dobro (8,7 versus 14,2% por 100 pessoas/ano; taxa 1.76). Mas se a doença ulcerativa genital estava presente em ambos a possibilidade de transmissão subia para quatro vezes mais (29.6 por 100 pessoas/ano, taxa 3.70).

Durante a discussão destes dados, Kiwanuka referiu que não está esclarecido porque é que sendo o sub-tipo A o que mais facilmente se transmite, é o sub-tipo D aquele que é mais prevalente na população.

Dados sobre as diferenças na transmissão dos vários sub-tipos “são cruciais para os programas de desenvolvimento de uma vacina para o VIH, para a compreensão da dinâmica da epidemia do VIH em diferentes regiões geográficas e para a projecção da pandemia no futuro”, referiu o autor.

Kiwanuka sugeriu igualmente que os investigadores devem considerar o sub-tipo do VIH como um novo parâmetro na construção dos modelos matemáticos da transmissão da infecção.

Referência
Kiwanuka N e tal. HIV-1 subtype and heterosexual transmission of HIV among HIV-1 discordant couple in Rakai, Uganda. 17th International AIDS Conference, Mexico City, abstract MOAX0304, 2008
 

cau@soropositivo.org

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Claudio Souza DJ, Bloqueiro e Escritor
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