Pesquisa traça o perfil das prostitutas do Centro Histórico

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Correio da Bahia – BA

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05/DEZEMBRO/07

Pesquisa traça o perfil das prostitutas do Centro Histórico

 

 Mais da metade das mulheres admitiu a dependência do álcool

Alan Rodrigues

Traçar o perfil das profissionais do sexo no Centro Histórico de Salvador e fazer dos dados coletados o ponto de partida para o desenvolvimento de ações de assistência a esse público, ainda hoje alvo de discriminação e violência. Esse é o objetivo da pesquisa divulgada ontem pelo projeto Força Feminina, que há sete anos atua no acolhimento e assistência às prostitutas do Pelourinho e adjacências.

 

Estiveram presentes ao anúncio dos resultados da pesquisa representantes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), INSS, Polícia Militar, delegacia especializada de proteção à mulher, entidades promotoras de cursos profissionalizantes e diversas ONGs com trabalhos voltados à prostituição.

 

O organizador da pesquisa, o sociólogo José Maurício Bittencourt, exibiu índices reveladores sobre a realidade de quem vende o próprio corpo pelas ruas do centro histórico. De acordo com os dados coletados junto a 96 profissionais do sexo atendidas pela Força Feminina, duas a cada três prostitutas são solteiras e o mesmo contingente declarou ter de um a três filhos. Apenas 22% têm marido ou companheiro e mais da metade, 55%, sustentam a casa sozinhas.

 

No quesito saúde, uma surpresa. Somente 12,5% declaram ter contraído doenças sexualmente transmissíveis e 5,2% admitiram ter o vírus HIV. Mas cerca de 30% alegaram problemas de pressão arterial ou doenças cardíacas.

 

O consumo de drogas também foi abordado e a pesquisa revelou que as drogas chamadas “sociais” predominam junto às prostitutas, muito mais que o crack, como o próprio pesquisador admitiu imaginar. No total, 56% das profissionais do sexo se declararam dependentes do álcool e pouco mais de 43% disse não passar sem um cigarro. Entre as drogas ilícitas, a maconha vence disparado (32,3%) com mais que o dobro da incidência de crack (15,6%) e três vezes mais usuárias que a cocaína (10,4%).

 

Quanto à proteção contra doenças e prevenção da gravidez indesejada, 39,5% disseram que não usam nenhum método anticoncepcional, mas 90% afirma só ter relações com camisinha. Apesar disso, 15% revelam já ter engravidado de clientes e, destas, 60% optaram pelo aborto.


Entidades se comprometem a agir

O debate com base nos números apresentados deverá se transformar numa carta-compromisso, na qual cada entidade irá se comprometer a realizar alguma ação para enfrentar os problemas que afligem as profissionais do sexo. Para Eliecilda Souza, a Cida, coordenadora da Força Feminina, o importante é abordar a prostituição “não pela questão moral, mas como resultado da construção de uma sociedade desigual”.

 

Há sete anos, a Força Feminina – que funciona na rua  Saldanha da Gama, em frente ao Liceu de artes e ofícios –, obra mantida pela ordem católica das Irmãs Oblatas, presta assistência psicológica, promove cursos de alfabetização e atendimento de saúde, com exames ginecológicos preventivos e outros serviços, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. Também é oferecida orientação para inscrição no INSS, como trabalhadora autônoma, o que permite acesso a benefícios como auxílio-doença e aposentadoria. Só em 2007, foram feitos 211 atendimentos a 138 mulheres.


Ex-profissional vira símbolo da Força Feminina

Um dos principais símbolos do trabalho da Força Feminina é a ex-prostituta Goretti Gonçalves, 47 anos. Ex, mas não totalmente afastada da profissão. “Hoje, eu ganho dinheiro, não é o dinheiro que me ganha”, ressalta. Livre do álcool e das drogas – “já usei de tudo”, diz –, Goretti considera sua maior vitória ter se assumido como prostituta. E hoje se orgulha de ter comprado sua casa e criado os quatro filhos que ficaram sob sua guarda, de um total de dez, com o dinheiro da venda de seu corpo.

 

O segredo para se aposentar após 25 anos de labuta ela conhece bem: “Neste ramo não existe sorte, existe inteligência. Conheci prostitutas muito mais bonitas que eu, que ganhavam três vezes mais, e hoje não têm onde morar”, diz Goretti, que hoje sobrevive do artesanato, confeccionando pulseiras e colares para vender no Pelourinho.


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Claudio Souza DJ, Bloqueiro e Escritor
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